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http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/selecao-diaria-de-noticias/midias-nacionais/brasil/correio-brasiliense/2011/02/28/ao-barack-com-carinho-artigo
Ao Barack, com carinho
Querido Barack:
Que bom que você vem visitar o Brasil no dia 19 de março. Veja só que coincidência. Onze dias depois, em 30 de março, dois cidadãos do seu país, Joseph Lepore e Jan Paul Paladino, terão que dar explicações por ter matado o meu marido e mais 153 pessoas, a maioria delas brasileiras, que estavam no Boeing do voo 1907 da Gol, em 29 de setembro de 2006. O meu marido Rolf era uma pessoa maravilhosa, ajudava a todos, além de ser um ótimo pai e um marido incrível. Pois é, ele deixou uma filha órfã de pai. Você também tem filhas, não é mesmo?
A minha tem oito anos agora. Na época em que o pai dela morreu, ela tinha apenas quatro. Até hoje ela guarda lembranças do pai. A mais marcante talvez seja o chinelo dele, que está até hoje na porta. Ela não deixa que ninguém os tire dali. Aqui em casa não podemos mais comer bolinho de carne, pois o Rolf e a minha filha faziam isso juntos. Você também cozinha com as suas filhas, quando tem um tempinho, Barack?
Eu ainda me lembro como ele dizia para eu ter calma, lembro-me bem dele entrando em casa quando retornava de viagem e me lembro do sorriso estampado em seu rosto quando ele brincava com a nossa filha. Fico com o coração apertado quando lembro que tudo que tenho agora é só isso: lembranças. Você também diz para sua mulher ter calma, Barack?
Meu marido voltava de uma viagem de trabalho no avião da Gol quando o jato Legacy colidiu com o Boeing, fazendo 154 vítimas. Aquele foi o pior dia da minha vida. Depois disso, comecei a minha busca incansável por justiça. A Gol chegou a me oferecer a quantia de US$5 milhões de indenização. Cinco milhões pela vida do Rolf? Cinco milhões de dólares pela vida do meu marido? Não. Eu não quero o dinheiro, não há quantia no mundo que possa pagar a vida do meu esposo.
Nossa filhinha, em uma redação feita na escola com o tema “saudade”, escreveu que sente saudade do papai, que ele trazia muitos presentes pra ela da China e que éramos uma família feliz. Suas filhas sentem saudade de você quando viaja? Pelo menos, você voltou pra casa todas as vezes. Já o Rolf não teve a mesma sorte.
Barack, coloque-se no meu lugar. Você não iria querer que suas filhas crescessem perguntando por que as pessoas que provocaram a morte do pai não estão na cadeia, não é mesmo? Sempre ensinei para a minha filha que querer a morte de alguém é errado, mas como vou dizer pra ela que os pilotos do avião que bateu no Boeing onde o papai dela estava ainda estão pilotando aviões e impunes? Só queria a minha dignidade e minha honra de volta. Quero a minha pequena crescendo em um mundo em que as pessoas que provocaram a morte do pai dela estejam pagando por isso.
Além da nossa filha, o Rolf me deixou, deixou amigos, clientes, fornecedores e funcionários, que são mais de três mil. Nossa empresa ficou desfalcada, com todos mandando cartas manifestando suas condolências. Agora tenho uma única luz no fim do túnel. Finalmente, a audiência com os pilotos foi marcada. Eles estarão no consulado brasileiro nos EUA e nós, aqui em Brasília. Será que finalmente essa minha angústia vai acabar e eu poderei colocar a minha cabeça no travesseiro todas as noites e dormir em paz, sabendo que a justiça foi feita? Eu espero que sim, Barack.Espero mesmo.
Seja bem-vindo ao Brasil, Barack. Aproveite a alegria do meu povo e se divirta. Mas não se esqueça da minha história e do lamentável episódio que envolve os filhos do seu país. Eu ainda me recordo do seu discurso na posse. Você falou a respeito dos direitos humanos, defendendo a liberdade e a igualdade. Espero que esse discurso seja mantido. E lembre-se, Barack, que eu e mais 153 famílias contamos muito com seu apoio.
ROSANE GUTJHAR Diretora da Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Voo 1907

Foi no meio da selva amazônica, que Rolf Gutjhar e mais 153 pessoas perderam a vida, graças a irresponsabilidade de dois pilotos americanos que foram devidamente protegidos pela mesma Embaixada que exigiu a deportação de um menor de idade com Cidadania Brasileira.

ui. Essa doeu.
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