sábado, 14 de maio de 2011

GUTA: UMA HISTÓRIA APAIXONANTE






Dia 15/05, três anos da morte de Guta.













Seu pai, Raimundo Ribeiro Carneiro, nascido na Bahia, era um engenheiro, professor universitário e com tendências comunistas; era também bisneta de Ernesto Ribeiro Carneiro, professor de Ruy Barbosa e, por ambos serem mestiços, Ernesto acusava o "Águia de Haia" de querer se passar por "branco".

Ela nasceu em Minas Gerais, em 1947. Na infância, conheceu Carlos Marighela, famoso guerrilheiro, como "tio André"."Tio André" se amoitava na casa da familia Ribeiro Carneiro, ficava dois dias e depois sumia. Lógicamente que as crianças (Guta e Baynho - o apelido de Raimundo Ribeiro Carneiro, o filho, mais os outros três irmãos) não entendiam qual era a desse "tio".

Em 1958, a familia se mudou para o Rio de Janeiro e Guta foi matriculada no colégio Anglo-Americano, onde ela desenvolveu o gosto pela natação mas achava a educação uma chatice. Como as notas cairam na mesma proporção que as medalhas de natação proliferavam, ela foi transferida para o colégio Santa Úrsula. Neste colégio, ela aderiu ao grêmio estudantil e se candidatou a presidência do grêmio como... A candidata da esquerda! Foi eleita e arregimentada pela JEC - Juventude Estudantil Católica -, justamente por sua formação Católica. Sendo presidente do grêmio do Santa Úrsula, ela conheceu "a turma do grêmio do Santo Inácio", totalmente formado por meninos; eram os meninos do grêmio do Santo Inácio e as meninas do grêmio do Santa Úrsula.
Junto com o JEC, veio o contato com "partidão", também. Aos domingos, o JEC se reunia na igreja da Glória para discutir política sob a ótica católica.

Com o golpe militar em 1964, Guta foi sumariamente expulsa do colégio pelas freiras, que a consideravam "comunista". No dia do golpe, aliás, contou ela em entrevista para o PROJETO DA MEMÓRIA DO MOVIMENTO ESTUDANTIL, exceto pelo Caco [Centro Acadêmico Cândido de Oliveira], no Rio de Janeiro não havia mais nenhum outro movimento de resistência contra o absurdo golpe de direita. Temendo pela vida da filha, os pais resolveram mandá-la para os EUA, onde cursou inglês por um ano. Nos EUA, ela tomou ciência de que, tudo aquilo que se dizia no Brasil sobre "quão bem os EUA estavam fazendo ao enviar tropas para o Vietnã" era pura balela direitista e que os jovens de lá estavam se rebelando contra a guerra.
O convivio na casa da familia de um professor de Bekerley construiu a ideologia da moça que, aos 21 anos, estaria envolvida com um dos sequestros mais rumorosos do Brasil: o sequestro do Embaixador Americano Charles Elbrick.

Guta retornou ao Brasil um ano depois abertamente comunista, atéia e disposta a luta armada em prol da liberdade no Brasil. Validou seu diploma de 2o. grau para poder ingressar na universidade ("a formação intelectual era importante", diz ela na entrevista) e buscou ingressar também na Dissidência Comunista, liderado por Vladimir Palmeira, em 1967. Através do Caco e da Dissidência,o grupo se reunia para assembléias e para "zoar o barraco" dentro da faculdade. Em casa, o pai, ex-militante comunista, a pressionava a largar a vida de revolucionária.
Entre assembléias e brincadeiras, o grupo de resistência se colocava contra contra o acordo MEC-Usaid, uma tentativa de se privatizar 100% o ensino no Brasil, visando que o povo Brasileiro (e de outros países do Terceiro Mundo) mergulhassem nas trevas da total ignorância, afinal, um povo que desconhece seus direitos, que não pensa, é um povo facilmente governável".

Em 1 de maio de 1968, durante um encontro de jovens militantes em Ibiúna/SP, Guta é presa.

4 de setembro de 1969: um grupo de 12 jovens guerrilheiros do MR-8, sequestra no bairro do Botafogo, o Embaixador Charles Elbrick. O episódio, retratado no livro de Fernando Gabeira e posteriormente virou o filme "O Que é isso, companheiro?", era uma forma de pressionar a troca do refém pela libertação de diversos lideres do movimento estudantil, entre eles, José Dirceu, Onofre Pinto, Ricardo Zaratini, Vladimir Palmeira, Ricardo Vilasboas e Guta, todos presos e sendo torturados na dependênciasda Oban - Operação Bandeirantes -, até que Guta é transferida para o presídio Tiradentes (o mesmo onde permaneceu presa por dois anos a Presidente Dilma Rousseff).




Na Oban, Guta permaneceu dois meses e no presidio Tiradentes, mais alguns meses, até a ação do sequestro resultar na deportação dos 13 presos politicos, onde ela era a única mulher. Durante uma das sessões de tortura, Guta teve seus dentes quebrados no murro, por um torturador.








Guta, aos 21 anos, em frente ao Hércules 56 que transportou para o exílio, junto com Vladimir Palmeira (de pé, esq p/ dir, o primeiro) e José Dirceu (ao lado de Palmeira). Na foto, Guta está de pé e é a 6a. pessoa (esq. para dir.)














Do México, o grupo seguiu para Cuba. Muitos deles se sentiam incomodados por serem "hóspedes da Revolução Cubana". Alguns trataram de conhecer a fundo o que a Revolução Comunista estava fazendo pelo povo da ilha; outros, se engajaram em aulas de guerrilha. Guta, participando do segundo grupo, fez os cursos que quis e logo saiu de Cuba para morar na Itália, Chile, Argélia e Suécia. Na Suécia, ela teve o seu primeiro filho, Carlinhos, que nasceu com sérios problemas de saúde e lá ela voltou a estudar. Graduou-se em Pedagogia na Universidade de Uppsala.
Retornou ao Brasil após a Anistia de 1979, para ser uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores no Rio de Janeiro, junto com Benedita da Silva, que posteriormente seria Governadora do Rio de Janeiro. E, durante o Governo da "companheira Benedita", Guta foi diretora da fundação Santa Cabrini, ligada à recuperação de detentos.










Após a eleição de Luis Inácio Lula da Silva como Presidente do Brasil (2003-2010), Guta tornou-se Ouvidora-Geral da Petrobrás, a maior empresa do setor petrolífero no hemisfério sul e uma das três maiores do mundo.

Em 2004, Bruna, sua sobrinha e filha do irmão Raimundo - Baynho, retornou ao Brasil com o seu filho de 4 anos, Sean. Além de ser tia, Guta passou a ser a maior confidente de Bruna e, assim sendo, tomou conhecimento do desastroso casamento da sobrinha com o americano David Goldman, nos seus pormenores.















Por Bruna e Sean: a luta pela Justiça.










Quando, em 2007, acusados de "cumplices no sequestro internacional de Sean", Raimundo e Silvana são impelidos a aceitarem o "acordo para retirada da acusação", Guta postou-se contrária ao pagamento de 150 mil dólares exigido pelo ex-genro do casal.





No ano seguinte, em agosto, Bruna, divorciada de Goldman e já legitimamente casada com o advogado João Paulo Lins e Silva, falece horas após o nascimento de Chiara, irmã de Sean por parte de mãe.





Tendo ciência de quem era o ex-marido da falecida sobrinha e com a garra de quem sobreviveu a muitos revezes em nome da Democracia, Liberdade e Verdade, Guta resolveu abraçar o Direito de Sean permanecer no Brasil com aqueles que são a sua verdadeira familia: os avós (que prometeram tomar conta dele e da irmãzinha em nome da falecida filha), a irmãzinha e o homem que se casou legitimamente com Bruna e que deu a Sean todo o amor paternal (não apenas o amor paternal mas também estruturou uma vida saudável em familia com Bruna e Sean) que ele recebeu durante os anos no Brasil.





Seu último ato de defesa do Direito de seu sobrinho neto foi uma carta publicada após o começo dos ataques midiáticos de David Goldman no Brasil em 2009. (v. carta abaixo)





Porém, sabe-se lá por que e como, em 25 de abril de 2009, enquanto ia para casa de carro em Búzios/RJ, Guta perdeu a direção e, na rua de casa, o auto chocou-se contra um muro. Foi resgatada, recebeu os primeiros socorros ainda em Búzios e transferida de helicóptero para o Copa D´Or, na zona sul do Rio de Janeiro.





Foi submetida a três cirurgias para a retirada do baço, suturar estômago e fígado. Por 20 dias, a grande guerreira lutou por sua vida, falecendo em 15 de maio de 2009.

De forma besta e dolorosa, uma grande Brasileira se vai. Se alguém quer um livro realmente interessante, fica aí a dica de se escrever a biografia da Maria Augusta, Guta, como preferia ser chamada.





E mais uma conclusão que eu tiro: Bruna, de sangue italiano da Mooca e de sangue baiano, teve muita coragem e ombridade ao peitar o manipulador ex-marido. Genética não é por acaso.








CARTA DE GUTA








"Amigos,





peço atenção de vocês pois este é um assunto extremamente sério e doloroso que está afetando toda minha família e mais diretamente uma sobrinha querida, Bruna, meu irmão mais velho, Baynho, minha cunhada Silvana e meu sobrinho neto, Sean. A morte de Bruna além de tudo que significou para nós que a perdemos tão prematura e inesperadamente, possibilitou a situação absurda que estamos vivendo quando David Goldman, cidadão norte-americano e ex-marido de Bruna, que reclama o direito à guarda do seu filho biológico, guarda esta que estava com a mãe há mais de 4 anos.





É importante registrar que hoje Sean tem 8 anos (completará 9 em maio) e que durante todos esses anos não houve sequer uma tentativa da parte do pai biológico de contatar o filho. O endereço, contato telefonico, todos os meios eram conhecidos por ele e estiveram todo o tempo à sua disposição. Tudo começou quando minha sobrinha decidiu se divorciar e voltar a morar no seu país de origem.





Não conseguindo impedi-la já que era direito seu continuar ou não casada e por ter a mesma obtido a guarda do filho, o ex-marido iniciou um processo de pressão que só terminou depois que meu irmão e sua mulher concordaram em pagar 150 mil dólares. Foi uma tentativa (ingênua me parece) de livrar a família das ameças de acusação por sequestro do Sean com que David já ameaçava a família na ocasião. O dinheiro foi pago e o recibo do mesmo está anexado a todos autos onde foram aberto processos (Vara de Família, Vara Federal e AGU).





Não houve jamais qualquer tentativa ou intenção de evitar o contato entre pai e filho. Se não houve contato entre eles, o único responsável foi o pai biológico que hoje diz ter sido impedido, fato que não consegue comprovar.





É importante que aqui se faça um parentesis para esclarecer outro fato que mais tarde explicará o porque desse interesse tardio do pai biológico em conseguir a guarda do Sean: uma vez de volta ao Brasil, Bruna demonstrou ser uma excelente empresária e fez enorme sucesso no ramo de confecção de roupas infantis, criou uma marca e com muito talento e trabalho aumentou e muito o capital inicial empregado o qual havia herdado da família materna. Ou seja, Sean como herdeiro direto da Bruna tem direito a um montante de recursos expressivos que estariam à disposição do pai biológico caso ele ganhasse o direito da guarda. Por tudo que vivemos antes e pelo conhecimento que temos acreditamos que David Goldman visa unica e exclusivamente a herança do Sean.





A família que já sofreu extorsão uma vez teme ser novamente vítima. Em consequencia, acatam a orientação jurídica de não se manifestar publicamente sobre as acusações absurdas de que são vítimas, apesar do enorme dano moral e emocional que estão sofrendo.





Os pais, viúvo e irmão, denunciados e achacados como sequestradores, imorais, sem escrúpulos etc., sequer tiveram o direito de chorar dignamente a perda da Bruna pois, apenas 10 dias após sua morte, o pai biológico do Sean já estava aqui no país reclamando sua guarda.





Diante de tudo isso decidi pedir ajuda ao Governo brasileiro através da Secretaria de Direitos Humanos no sentido de proteger a integridade do Sean (também cidadão brasileiro), não apenas como tia avó, mas como cidadã que tem conhecimento da ameaça que significa a possibilidade dessa criança ser entregue ao pai biológico. Bruna, além de sobrinha, tornou-se minha amiga e confidente. Sentia-se à vontade na relação comigo e desta forma me fez confidências de diversos episódios do seu casamento que hoje me levam a tomar esta medida. Conhecedora de fatos ocorridos durante seu casamento com o pai biológico do Sean, sinto-me na obrigação de tentar impedir o que, caso ocorresse, poderia resultar em crime de abuso contra um menor. Solicitei uma medida de proteção aos direitos do Sean .





Gostaria que tudo fosse resolvido no âmbito legal, longe dos holofotes, mas, a situação está se tornando muito difícil para todos nós dada a campanha mentirosa e cínica que David Goldman está comandando pela internet e pela imprensa no seu país.





Minha sobrinha é retratada como uma adúltera, sem princípios e moral, que teria sequestrado seu filho para impedi-lo de conviver com o pai biológico. Para tanto ela teria se aliado ao suposto amante João Paulo Lins e Silva, na verdade seu marido legal (agora viúvo), com quem se casou após o divórcio. Ele é o pai da única irmã do Sean e se chama Chiara. Sean convive com João Paulo há mais de 3 anos. Ele o tem como pai. Ama-o, chama ele de papai, sabe que tem um pai biológico, mas, seu afeto, emoção, todos sentimentos estão ligados a quem o criou junto com a mãe nos últimos anos. Trata-se de uma criança de 8 anos que convive com esta família por quase a metade de sua vida. Como aceitar esse absurdo? Tudo que está sendo afirmado pela famíla está documentado e faz parte dos citados processos.





Desculpem o longo desabafo. Mas, como não temos permissão legal para rebater as acusações que fazem a nossa família fora do âmbito judicial, conto apenas com os amigos que me conhecem, conhecem minha história e principalmente conhecem meu compromisso em defender os direitos de todos.





Como me abster logo quando pessoas queridas de minha família estão envolvidas? Abraço grande e obrigada mais uma vez,





Guta. "













***









BIBLIOGRAFIA







PROJETO MEMÓRIA DO MOVIMENTO ESTUDANTIL (Entrevista com Maria Augusta Ribeiro Carneiro para download)








http://www.mme.org.br/main.asp?View=%7BD8F61CAF-FA6F-480C-B5B8-2B7E57510000%7D&Team=&params=itemID=%7B05DA2022-9809-4FB6-AB6E-29FC39F6B056%7D%3B&UIPartUID=%7BD90F22DB-05D4-4644-A8F2-FAD4803C8898%7D








MARIA AUGUSTA CARNEIRO RIBEIRO (1947-2009)








http://pandinigp.blogspot.com/2009/05/maria-augusta-carneiro-ribeiro-1947.html









GUTA POR MARIA AUGUSTA








http://youpode.com.br/blog/alguemmedisse/2009/05/15/guta-por-maria-augusta-i/









NOSSA AMIGA E COMPANHEIRA GUTA NOS DEIXOU








http://www.zedirceu.com.br//index.php?option=com_content&task=view&id=5951&Itemid=2








INCURSÕES NA HISTÓRIA DAS ANISTIAS POLITICAS NO BRASIL








http://www.dhnet.org.br/direitos/anthistbr/redemocratizacao1988/homero_anistia.html#6

Um comentário:

  1. Guta,uma brava guerreira q lutou pelo Brasil,mas infelizmente não teve tempo suficiente para lutar por Sean e que estava coberta de razão quando previu que Sean poderia sofrer abusos se voltasse a morar com o pai e é exatamente isso que estamos constatando agora diante do uso de imagens do garoto e como se isso não bastasse a apariçao ao vivo do menino em programas de TV com o intuito de promover um livro que fala mal e ofende a memória de sua mãe e avô(já falecidos),além de ultrajar os nomes de sua avó,padrasto,tio e toda sua família brasileira.Pobre Sean.

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